Presidente do PT pede saída de pastor de comissão. Em março do ano que vem, petistas voltam a puxar o saco dos “crentes”. Ou: Promessa de Gilberto Carvalho de PT disputar espaço com evangélicos está sendo cumprida
Em
2010, o PT buscou desesperadamente o voto dos evangélicos. O deputado
Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos e
Minorias da Câmara, conforme ele mesmo revela em vídeo, foi uma das lideranças evangélicas que negociaram com os petistas. Já expus detalhes dessa relação.
Muito bem!
Nesta segunda, chegou para a festa quem faltava: o presidente nacional
do PT, Rui Falcão. Agora ele também quer a saída de Feliciano da
Comissão, segundo informa a Folha. Expressou-se nestes termos: “Foi
uma péssima indicação; não esperávamos que o PSC fosse indicar um
fundamentalista”. O presidente do diz esperar que o Congresso “possa
reconsiderar” a decisão e “convencer o PSC a fazer outra escolha”.
Outro chefão petista, Paulo Vannuchi, ex-ministro dos Direitos Humanos e
diretor do Instituto Lula, também pediu a saída do deputado pastor: “As
coisas são reversíveis. É preciso insistir na linha das manifestações
deste sábado e dialogar com o presidente da Câmara, para sensibilizar
que é ruim esse ambiente”.
O deputado enfrentou um novo protesto nesta
segunda, desta vez em frente à unidade de Ribeirão Preto da Igreja do
Avivamento. Cerca de 200 pessoas cobraram a sua saída da comissão,
portando cartazes com acusações de homofobia e racismo. Ele seria
homofóbico porque se opõe ao casamento gay e racista por conta de uma
frase escrita no Twitter. Já expliquei por que tanto o tuíte como a a acusação são ridículas. O nome disso é, sim, intolerância. Mas intolerância de quem mesmo?
A
suposição de que só alguém “que pensa o que a gente pensa” pode presidir
uma comissão fala por si mesma. Desde o começo, os petitas davam apoio
de bastidores ao movimento contra Feiciano. Agora que veio a público o
entendimento eleitoral entre o deputado e o partido, revelado no vídeo
aqui divulgado, Falcão resolveu tirar o corpo fora.
Eis aí.
Está sendo ministrada uma importante lição às correntes evangélicas que
começaram a chamar os petistas de “companheiros”. Têm a solidariedade do
partido só até a página 13. Dali para diante, se preciso, o partido
entrega os aliados aos leões sem pestanejar.
Falta um
ano e sete meses para a eleição. Ali por volta de março do ano que vem,
os petistas mandam, de novo, seus emissários procurar as lideranças
evangélicas com promessas e primícias. Esses líderes até podem ser
“abençoados” com prebendas, mas o eleitorado, é certo, estará sendo
enganado.
Tudo está saindo conforme o planejado. Gilberto Carvalho avisou em janeiro de 2012 que
a próxima tarefa do PT seria disputar influência com os evangélicos. É o
que o partido está fazendo. Lideranças petistas estão procurando
representantes dessas correntes religiosas para desqualificar Feliciano e
para demonstrar que ele não tem o apoio nem dos fiéis de denominações
similares à sua.
Escrevo
pela enésima vez: não tenho a menor simpatia pela prática política (e,
até onde vi, nem pela religiosa) de Feliciano. Mas as duas acusações são
absurdas, muito próprias de um tempo em que esses movimentos militantes
decidem quem vai e quem não vai ser demonizado, quem pode e quem não
pode dizer o que pensa. São verdadeiros tribunais de linchamento
público. Não basta ser contra o casamento gay para ser homofóbico. A
acusação de racismo, então, avança a linha do mau-caratismo. Segundo os
critérios daqueles mesmos que estão nas ruas, Feliciano é filho de uma
negra. O que ele falou sobre a descendente de Noé e a África é só uma
bobagem, não racismo.
Posso detestar tudo o que Feliciano pensa, mas não me venham pedir para
silenciar diante desse espetáculo grotesco de intolerância. Menos ainda
para participar do linchamento a que aderiram setores “progressistas” da
imprensa, que não cumprem o mínimo da nossa profissão: explicar por que
as duas acusações não fazem sentido. E nem por isso precisam defender
que Feliciano fique lá. No debate público, é perfeitamente possível
escolher uma coisa ou seu contrário sendo honesto intelectualmente tanto
num caso como noutro. O que está em curso é de uma desonestidade
intelectual assombrosa.
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